Odero
Vol. 20, núm. 2 pp. 185-199
B.F. Skinner e a modernidade: Notas a partir
de uma comparação com M. Foucault1
(B.F. Skinner and modernity: Notes from a comparison with M. Foucault)
Eileen Pfeiffer Flores*, Miguel Vieira Batista**, Juliana Fagg**
& Hugo Oliveira Figueiredo Cavalcanti**
*
Universidade de Brasília **Centro Universitário de Brasília
(Brasil)(Received: January 24, 2011; Accepted: August 25, 2011)
Skinner e Foucault não são autores freqüentemente comparados. Isso não é surpreendente se levarmos em
conta que, muitas vezes, teorizações dentro da própria psicologia são consideradas incomensuráveis (cf.
Carrara, 2005, acerca, por exemplo, da possibilidade (ou não) de diálogos entre pensamento cognitivista e o
behaviorismo radical). Adificuldade de aproximação é ainda mais evidente quando se trata do diálogo com
autores de outras áreas. Foucault, embora tenha escrito bastante sobre a Psicologia, só falou “de dentro” da
Psicologia por um breve período no início de sua carreira (Foucault, 2010b/1957; Foucault, 2000/1954; cf.
Ferreira, 2009) (Posteriormente, a Psicologia aparecerá como objeto de suas análises acerca das condições
depossibilidade das ciências humanas, e.g. Foucault, 2010b). Há, ainda, certo isolamento da Psicologia, e,
particularmente, do behaviorismo radical e da análise do comportamento, em relação a autores provenientes de outras ciências humanas. No entanto, parece ser crescente a defesa da produtividade desse diálogo
(eg. Blackman, 1991; Passos, 2006, entre outros) e este texto pretende contribuirnesse sentido, mostrando
contrastes e aproximações nos pensamentos destes dois autores a partir de algumas características que têm
sido considerados típicas do pensamento moderno (e.g. Gergen, 1992; Sarup, 1993; Woods, 1999), quais
sejam (1) a construção de grandes sistemas ou “teorias do todo”, (2) o historicismo, (3) a centralidade do
Sujeito Autônomo e (4) a postulação de categoriasuniversais, especificamente as categorias de “natureza
humana” e “liberdade criativa”. O objetivo deste trabalho não é aprofundar-se na discussão sobre se houve
ou não uma ruptura efetiva com a modernidade ou se as tendências autodenominadas pós-modernas seriam
apenas um aprofundamento ou desdobramento do moderno (para uma introdução a essa discussão, ver Leitão & Nicolaci-da-Costa, 2002). Além disso,não se pretende categorizar de forma absoluta o pensamento
de Skinner como sendo ou não “moderno”, e sim mostrar como ele se posiciona perante os pontos citados,
comparando-o com o pensamento de Foucault.
A obra de Murray Sidman “Coerção e suas implicações” (1989/2003), enquanto produção dentro da
tradição do Behaviorismo Radical, será brevemente citada para exemplificar alguns argumentosreferentes
1) Endereço para correspondência: Departamento de Processos Psicológicos Básicos/Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília - Campus Universitário Darci Ribeiro; Brasília - DF; CEP: 70.910-900 - Telefone: (61) 3307-2625 R-507;
FAX: (61) 3273-0203. E-mail eileen@unb.br. Os autores agradecem aos revisores anônimos e ao Editor-Associado pelas valiosas
sugestões.
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SKINNER EFOUCAULT
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ao primeiro ponto (construção de grandes sistemas ou “teorias do todo”), e as posturas de Skinner e de
Foucault serão contrastadas com as de Noam Chomsky para ilustrar argumentos do quarto ponto (categorias
universais de Natureza Humana e Liberdade Criativa). Cada ponto será brevemente explicado antes de
expor as posições de Foucault e de Skinner.
os gRandes sisteMas ou“teoRias do todo”
A ciência e a filosofia modernas apresentam “teorias do todo”, grandes arcabouços filosóficos ou teóricos
(como o Marxismo ou, na Psicologia, os grandes sistemas psicológicos). Os discursos denominados pósmodernos ou pós-estruturalistas, por sua vez, mostram-se geralmente céticos frente a esses gigantes teóricos e tendem a privilegiar o conhecimento local, contextualizado, as...
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