San agustin y santo tomás

Tanto Santo Agostinho como São Tomás de Aquino indexam o Belo ao Bem: para além da proporção, do número e da ordem, pois estes atributos nada mais são do que, segundo os valores vigentes nas respectivas épocas históricas, reflexos da própria beleza de Deus. Outrossim, o Feio é frequentemente indexado ao Mal. É ponto assente, pois, para estes dois doutrinadores da estética, que a criaçãoartística, assim chamada, é atributo e competência divina e que Deus (tanto em Agostinho como em Aquino), usa o homem como alfaia para essa lavra. Tal premissa enformará toda a estética medieval, premissa essa sobre a qual é edificado todo um rígido complexo de valores e normas onde o homem é mero figurante, tomemos a liberdade de assim dizer.
Mas, embora hoje aquela visão das atribuições do homem peranteo Belo, nos pareça bastante redutora e castradora da criatividade, devemos, contudo, entender tais normativas à luz do contexto histórico em vigor, cruzando as mais importantes valências (sociais, políticas, teológicas, etc.) e, enfim, entendendo que a Cristandade de então reclamava para si mesma o papel de fiel da balança, de referência moral e ética do mundo conhecido. Esta postura maniqueísta(patente, sobretudo, nas reflexões de Santo Agostinho pois este filósofo foi fortemente influenciado pelo pensamento de Manes ), constitui o referente artístico medieval, o farol orientador. Com efeito, a Aesthesis vem despertando interesse, desde a Antiguidade, por aquilo que, na realidade, deleita o Homem. Esta postura quanto ao questionamento do Belo, aduzindo a esse questionamento uma demandadesassossegada pela percepção e balizamento do que é a noção de beleza, tem motivado a Humanidade, de forma transversal nas suas várias acepções: enquanto matéria filosófica, enquanto simples fruição ou enquanto acto e processo criador.
Evitando entrar por descrições de carácter biográfico, passamos a discriminar as idiossincrasias específicas de cada um dos dois filósofos:
Santo Agostinho:Agostinho, não foi somente – não sendo isso pouco – um dos pais da filosofia cristã, mas também um dos criadores da sua estética. Na verdade, apesar de não ter considerado a estética como uma disciplina independente (ou, até, autónoma), dedicou-lhe inexcedível atenção. Na sua juventude, antes de se converter ao cristianismo, foi autor dum tratado dedicado exclusivamente à problemática da beleza. Estetratado , ter-se-á perdido irremediavelmente. Dos seus escritos posteriores, apenas um tratado sobre música se ocupa de questões exclusivamente estéticas. As suas ideias e opiniões sobre Arte e Beleza estão distribuídas por muitas das suas obras.
Para firmar os alicerces da sua estética cristã, Agostinho valeu-se de duas fontes principais: Por um lado, assimilou as teses estéticas maisdifundidas e típicas da Antiguidade, especialmente as procedentes da tradição Platónica; por outro lado, outra fonte que o influenciou fortemente foi a doutrina de Plotino. O tratado deste último filósofo dedicado à beleza causou em Agostinho uma profunda impressão pelo facto da sua doutrina idealista, espiritualista e transcendente ligar as questões estéticas com os problemas essenciais da filosofia. Efazia-o, aliás, duma maneira que concordava com o seu pensamento. A utilização destas fontes é lógica, pois, como discípulo da cultura clássica, Agostinho estava familiarizado com as correspondentes teorias estéticas. Por outro lado, a essência cristã do filósofo fundiu estas ideias com as normativas procedentes da Bíblia pré-cristã e cristã. Há que ter em conta que as ideias estéticas aparecemprincipalmente no Antigo Testamento e que muitas se baseiam no pensamento Antigo, o que facilitou a fusão destas duas fontes. Assim sendo: Santo Agostinho assumiu os princípios estéticos fundamentais da Antiguidade, transformou-os e transmitiu-os à Idade Média. A sua obra constitui, portanto, um ponto crucial na história da estética em que convergem as correntes Antigas e donde derivam as...