O Popol Vuh E A Concepção De Humano Para Os Maias Das Terras Altas Em Tempos De Conquista Espiritual

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL







JOYCE PINTO ALMEIDA CARVALHO









O POPOL VUH E A CONCEPÇÃO DE HUMANO PARA OS MAIAS DAS TERRAS ALTAS EM TEMPOS DE CONQUISTA ESPIRITUAL














TRABALHO APRESENTADO AO PROF. DR
EDUARDO NATALINO DOS SANTOS
PARA ACONCLUSÃO DA DISCIPLINA
HISTÓRIA E COSMOGONIA SEGUNDO AS
ELITES INDÍGENAS DA MESOAMÉRICA
E ANDES, ÉPOCA PRÉ-HISPÂNICA E COLONIAL
O POPOL VUH E A CONCEPÇÃO DE HUMANO PARA OS MAIAS DAS TERRAS ALTAS EM TEMPOS DE CONQUISTA ESPIRITUAL

1- INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo central o estudo de como os maias das terras altas enxergaram o próprio homem maia, sua origem, sua função no cosmose suas características corporais e psíquicas no momento do encontro com a cultura européia, nos séculos XVI e XVII, período no qual foi produzida a fonte que usaremos. Trata-se de uma fonte histórica nativa colonial em escrita alfabética, onde são narrados os mitos de criação dos maias da região da Guatemala, além de sua última parte contar a início da história dos quichés e seu predomínio naregião. Pela análise inicial desse livro e da bibliografia referente ao mesmo, percebemos que o homem é visto como um mantenedor da ordem do universo, que tem seu corpo dividido à mesma maneira do cosmos, e que homens e deuses se mantêm uma relação de interdependência, na qual o homem cumpre seu papel de alimentar os deuses com seu sangue para que os deuses por sua vez não deixem que falte comida aesses homens.
No que concerne às terras altas (que correspondem a região da Guatemala, a costa de El Salvador e o território de Chiapas no México), de onde advém a fonte para o presente trabalho, no período anterior à conquista estavam divididas em vários grupos políticos hostis, em confederações regionais. Essa grande divisão em pequenos grupos políticos, que também possuíam uma grandediversidade cultural, é provavelmente resultado da paisagem montanhosa e da diversidade climática, como coloca Federico Navarrete Linares.


El paisaje montañoso implica una gran diversidad climática. (...) Esta diversidad ha permitido a las comunidades mayas explotar diferentes tipos de tierra, con diversos productos y ciclos agrícolas, a distancias relativamente cortas. A lavariedade geográfica y climática corresponde una gran diversidad cultural.[1]


Essa região estava dividida entre as terras conquistadas pelos quichés e as terras dos cakchiqueles e seus aliados. Trata-se de grupos rivais cuja disputa pelas terras da região é histórica, sendo que pouco antes da conquista os quichés estavam ampliando seu domínio. Desta forma, os cakchiqueles ao saberem das notíciasdas conquistas nas terras astecas, longe de considerar que os estrangeiros poderiam constituir uma ameaça a eles, pensaram que, caso se unissem aos espanhóis contra os quichés, conseguiriam destruir a hegemonia destes de uma vez por todas.[2]
Assim, como em diversas partes da Mesoamérica, essa divisão política conflituosa colocou os espanhóis em situação de vantagem, uma vez que os mesmos seuniram aos cakchiqueles contra os quichés, para depois conquistar os demais povos. Desta forma, entre 1524 e 1547 os espanhóis lograram conquistar a maior parte das terras altas, o que significou para os indígenas a perda de sua independência política e religiosa e sua exploração econômica por parte dos estrangeiros.
No que se refere à conquista religiosa das terras altas, em locais comoas terras dos quichés e cakchiqueles, os espanhóis utilizaram de pactos políticos e tentativas de cristianização, destruindo todo e qualquer objeto que julgassem alvo de idolatria. Entretanto, ao perceberem a relativa ineficácia dos resultados evangelizadores e a força da interpretação nativa do cristianismo, os missionários iniciam outra fase da conquista, com a idéia de que necessitam...