Trabalho Direito
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO-UFMT INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS-ICHS DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA
O homem: um animal político ou social?
Sávio Laet de Barros Campos
Cuiabá, 2010.
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Sávio Laet de Barros Campos
O homem: um animal político ou social?
Trabalho da disciplina Questões Filosóficas IV, do Prof. Dr. Roberto de Barros Freire do Curso de Especialização em Filosofiada Universidade Federal de Mato Grosso.
Cuiabá, 2010
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1. Introdução
Este ensaio versa acerca do capítulo II – Os Domínios Público e Privado – do livro A Condição Humana, da filósofa Hannah Arendt. O texto que contemplamos é a edição brasileira, que conta com tradução de Roberto Raposo e revisão técnica do Prof. Adriano Correia. O capítulo está dividido em vários tópicos, elegemos três paraa nossa análise. São eles: O homem: um animal social ou político, onde Arendt procura mostrar a distinção essencial entre sociabilidade e política, sendo que esta última não se reduz àquela; A pólis e a família, onde a filósofa mostra a razão pela qual o advento da vida pública nas cidadesestados da Grécia antiga só irrompeu com o declínio dos laços de parentesco; O advento do social, ondeHannah Arendt trabalha o fato de, na nossa sociedade, a dimensão política ter sido esquecida em razão da prevalência do domínio social. Privilegiaremos esta ordem na nossa exposição. Passemos ao desenvolvimento, abordando o tópico O homem: um animal social ou político.
2. Desenvolvimento
2.1. O homem: um animal social ou político
A vida ativa, que é a própria vida humana na medida em que seencontra empenhada em alguma atividade, está sempre enraizada no mundo dos homens e das coisas feitas pelo homem, sem jamais conseguir transcender as coisas e os homens. Duas coisas são certas: nem o ambiente no qual habita o homem existiria sem a sua atividade, nem o homem poderia desenvolver quaisquer atividades sem a mediação das coisas e dos outros homens. Dentre as atividades humanas, uma sedestaca por ser a única que, de forma alguma, poderia ser realizada fora da sociedade dos homens: a ação. E’ certo que um trabalho estritamente solitário não seria um trabalho humano; na verdade, tal trabalho seria mais
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condizente com um animal laborans, não com um homem. Ademais, um homem que obrasse sem a intervenção de qualquer outro homem, seria um mero fabricador, uma espécie de demiurgoplatônico, e não propriamente um ser humano. Entretanto, a ação é ainda mais especificamente humana. Com efeito, de nenhum modo, mesmo que quisesse, o homem seria capaz de realizá-la sozinho, já que o que a constitui é exatamente a presença constante dos outros homens. A ação é a única atividade do homem que não pode, em absoluto, ser realizada sem a presença do seu semelhante, ou seja, é a únicaatividade que não interpõe, entre um homem e outro, a mediação das coisas. Desta feita, a atividade realizada pela ação atinge, direta e imediatamente, o outro. Ora, a ação humana foi designada por Aristóteles como ação política. De sorte que ele definiu o homem como um animal político. Porém, pareceu aos autores da posteridade que o social e o político eram simplesmente idênticos. De resto, foiassim que Tomás de Aquino definiu o homem como um animal político, isto é, social. É claro que, de algum modo, o conceito de sociabilidade está ligado ao conceito de política, mas, na acepção grega, não é a sociabilidade natural entre os homens aquilo que fundamenta a ação política. De um modo geral, o termo societas designa uma aliança entre pessoas para a obtenção de um fim específico. Mas este fimespecífico pode ser, por exemplo, um simples “conluio” constituído com o fito de dominar outros homens ou, simplesmente, cometer um crime. Foi somente com o ulterior conceito de societas generis humani, isto é, uma sociedade da espécie humana, que o aspecto social começou a ser considerado uma dimensão fundamental da ação política e da própria condição humana. E’ evidente que, nem Platão, nem...
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