As Ambiguidades Da Reciclagem Das Latas De Alumínio

A lata de alumínio é um dos utensílios mais corriqueiros no cotidiano de consumo dos grandes centros urbanos. Embora o Brasil tenha sido o primeiro país da América Latina a produzir alumínio, somente a partir de 1990 o País passou a contar com latas de alumínio para embalar bebidas , as quais, até então, eram distribuídas, predominantemente, em embalagens de vidro retornáveis. A despeito dapraticidade da lata de alumínio para a distribuição e consumo de bebidas, chama-nos a atenção a forma ambígua como nos apropriamos desse produto em nosso imaginário coletivo: por um lado, a lata de alumínio representa o típico comportamento consumista dos centros do capitalismo, os quais empregam, indiscriminadamente, objetos descartáveis nas mais corriqueiras atividades humanas, tornando a eminenteescassez de recursos naturais e as questões em torno da destinação do grande volume de resíduos sólidos produzidos alguns dos mais significativos problemas da sociedade contemporânea; por outro, a lata de alumínio tornou-se um símbolo do discurso de reaproveitamento e de desenvolvimento sustentável, inserindo-se num suposto contexto de uma nova racionalidade de consumo e de um novo tipo de relaçãodos humanos com o planeta, a qual privilegiaria a defesa do meio ambiente.
Segundo dados da Associação Brasileira do Alumínio, há nove anos consecutivos o Brasil tem sido líder mundial na reciclagem de latinhas. Em 2009, o País bateu o recorde mundial de reciclagem de latas de alumínio com o índice de 98,2%:
Foram 198,8 mil toneladas de sucata de latas recicladas, o que corresponde a 14,7bilhões de unidades, ou 40,3 milhões por dia ou 1,7 milhão por hora. Atualmente, em aproximadamente 30 dias, uma latinha de alumínio para bebidas pode ser comprada no supermercado, utilizada, coletada, reciclada e voltar às prateleiras para o consumo .
Somente nesse ano de 2009, a simples atividade de coleta das latas usadas teria movimentado cerca de R$382 milhões na economia nacional e gerado umsignificativo impacto para a preservação do meio ambiente, uma vez que o processo de reciclagem utilizaria apenas 5% da energia empregada para a produção de latinhas a partir do alumínio primário (tal procedimento corresponderia também a apenas 5% das emissões dos supostos gases de efeito estufa em comparação ao outro tipo de produção).
O alumínio é o terceiro elemento químico mais abundante daterra. Todavia, a sua obtenção requer uma grande quantidade de energia. A principal matéria prima para a consecução do alumínio é o minério de bauxita. O Brasil é o terceiro maior produtor de minério de bauxita, com produção em 2010 estimada em 29 milhões de toneladas (equivalente a 14% da produção mundial). A Austrália é líder em produção, com 31% do total, seguida pela China com 18%. As reservasmundiais desse minério somam 34 bilhões de toneladas. O Brasil possui a 5ª maior reserva, com 3,8 bilhões de toneladas de bauxita metalúrgica (as maiores reservas pertencem Austrália, seguida por Guiné, Vietnam e Jamaica). Aproximadamente 98% da bauxita produzida no Brasil tem como destino a fabricação de alumina (óxido de alumínio – composto químico base na produção do alumínio). Os principaisestados brasileiros produtores são o Pará (85% – produção concentrada no município de Oriximiná) e Minas Gerais (14% – principalmente nos municípios de Poços de Caldas e Cataguases) . O consumo interno per capta de Bauxita cresceu 100% na última década no Brasil,
Em Oriximiná – PA atua a empresa Mineração Rio do Norte – MRN que é uma das maiores mineradoras de bauxita do mundo e a maior do Brasil(abrange 78% da mineração de bauxita nacional). A empresa tem como principal acionista a Vale (40% das ações) e conta com a participação do capital de grandes multinacionais do setor. Embora, como a quase totalidade das empresas contemporâneas, a MRN publicamente assuma como uma de suas prioridades a preocupação com o meio ambiente, os impactos negativos da extração de grandes quantidades de bauxita...