História Em Quadrinhos

ASTERIX: UMA REFLEXÃO SOBRE A MENTALIDADE FRANCESA PÓS-SEGUNDA GUERRA MUNDIAL.
Daniela Rabelo Costa Ribeiro Paiva

RESUMO:
Albert Uderzo e René Goscinny são criadores de uma famosa série de HQ francês conhecida mundialmente, cujo protagonista que dá nome à série é Asterix. As aventuras deste personagem se passam no Norte da Gália, região que ficcionalmente não teria sido ocupada peloImpério Romano graças a uma porção mágica preparada por um druida. Partindo-se deste enredo, o artigo explorará a forma com que os criadores representaram o passado e como esta representação dialoga com a realidade francesa do pós-guerra, principalmente na transição das décadas de 1950 e 60, período em foram feitas as primeiras edições. Para tal tarefa, será feito uma análise do primeiro HQ da série,intitulada Asterix, o Gaulês. Essa análise será fundamentada das perspectivas da Nova História Cultural, principalmente no que tange a utilização do conceito de representação e identidade.
PALAVRAS-CHAVE:
Nova História Cultural – História em Quadrinhos – Asterix – França Pós- Segunda Guerra Mundial.

1-INTRODUÇÃO
"Estamos no ano 50 antes de Cristo. Toda a Gália foi ocupada pelos romanos...Toda? Não! Uma aldeia povoada por irredutíveis gauleses ainda resiste ao invasor. E a vida não é nada fácil para as guarnições de legionários romanos nos campos fortificados de Babaorum, Aquarium, Laudanum e Petibonum...". Este é o enunciado escolhido pelos autores Albert Uderzo e René Goscinny para iniciar as aventuras de Asterix, uma famosa série de HQ francesa criada na passagem da década de 1950à de 60. Invariavelmente, o prólogo aparece nos primeiros quadrantes acompanhado do desenho de um mapa, elucidando o enredo dessa história em quadrinhos que se passa no Norte da Gália, especificamente na península Aremorica.

Essa região é conhecida historicamente por ter conseguido resistir às investidas militares do poderoso Império Romano. Os autores se apropriaram desse dado histórico paracriar uma explicação ficcional para essa proeza, de onde se partirá o desenvolvimento da trama. O sucesso do dos gauleses frente aos exércitos de César se deve a uma porção mágica criada pelo druida Panoramix que transforma esses pacatos aldeãos em guerreiros dotados temporariamente de uma força descomunal. A porção mágica é oferecida a todos os gauleses, que curiosamente têm o nome terminado com osufixo -ix, exceto a Obelix, melhor amigo do protagonista, que dá nome ao HQ. Isso porque, quando criança o mesmo caiu no caldeirão em se preparava o elixir e desde então permaneceu com uma força extraordinária. Esse personagem confere comicidade ao HQ, dentre suas façanhas, está suas constantes tentativas de beber a porção que lhe proibida, seu hábito de comer javalis e bater nos romanos, alémda relação com seu cachorro de estimação, idéiafix. Asterix, por sua vez, personifica a imagem do herói. O personagem é o guerreiro que mais se destaca na aldeia por sua coragem e esperteza, o que lhe faz ser indicado para as missões, onde vivencia suas aventuras juntamente com seu melhor amigo, formando a típica dupla de heróis dos HQs norte-americanos, só que em uma performance mais satírica.Por mais ficcional que seja a trama desse HQ, existe na representação criada sobre o passado francês uma relação dialógica com a realidade social dos autores. Albert Uderzo e René Goscinny produzem Asterix em uma época que há na mentalidade francesa ainda esta muito ligada a experiência traumática da Segunda Guerra Mundial, experiência inclusive vivenciada pelos autores. O presente artigo, então,buscará avaliar em que medida é procedente utilizar as representações que o HQ faz sobre a antiga Gália para compreender a mentalidade francesa das gerações seguintes à guerra. Para tal tarefa, optamos por centrar a análise no primeiro álbum da série, cujo titulo foi Asterix, o Gaulês, editado em 1961. Essa escolha se deve ao fato de haver neste exemplar as motivações e propostas originais...