Indiferenciação: uma prisão feita de sentimentos.

INDIFERENCIAÇÃO: UMA PRISÃO FEITA DE SENTIMENTOS1

Virginia Graciela Wassermann2 Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

RESUMO O presente artigo relata um atendimento psicoterápico individual realizado durante um estágio de psicologia clínica. Na compreensão deste caso foi abordada a questão da (in)diferenciação familiar na abordagem sistêmica como uma ferramenta para oconhecimento da psicodinâmica da paciente em tratamento. Ao longo do trabalho foi abordado o relato do caso clínico com suas particularidades e posteriormente foi feita uma compreensão dos conflitos trazidos para a psicoterapia pela paciente. Palavras-chave: Indiferenciação; fusão; triangulação; rompimento emocional.

ABSTRACT The paper present tells an individual psychotherapy attendance accomplishedduring an apprenticeship of clinical psychology. Understanding this case, the family subject differentiates/ indifference was approached by a systemic view, as a tool for the knowledge of the patient's psychodynamics in treatment. During this paper, the report of the clinical case was approached with it‟s details and, later, with an understanding of the conflicts brought to the psychotherapy bythe patient. Key words: indifference, coalition, triangulation, emotional breaking

INTRODUÇÃO A necessidade e o interesse em escrever sobre a indiferenciação do sujeito na família surgiu ao ficar intrigada com um caso que atendi no decorrer do estágio de clínica. Esta paciente trazia na psicoterapia, importantes e intensos conteúdos de sua conflitiva familiar que deixavam-na extremamenteabalada, ao mesmo tempo que verbalizava sua impotência e

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Artigo apresentado para a disciplina de Estágio Curricular em Psicologia Clínica, Faculdade de Psicologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em Outubro de 2006. 2 Psicóloga, PUCRS. E-mail: virginiagw@yahoo.com.br.

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desinteresse em realizar qualquer movimento de modificação, vendo como única saída a ruptura darelação e seu afastamento desses indivíduos. Entretanto, chamou-me a atenção o quanto esta necessidade de distanciar-se, sem resolver verdadeiramente os conflitos e as queixas trazidas por ela ao longo das sessões, estavam diretamente relacionadas à falsa crença de que isso lhe traria independência e amadurecimento pessoal. Esta associação forneceu mais informações sobre o que estava acontecendo coma paciente, quando foi constatado que ela não possuía a diferenciação necessária entre seu pensamento e seu sentimento, ocorrendo, conseqüentemente, a não diferenciação de si próprio e do outro, ou seja, seu self estava indiferenciado de sua família. O indivíduo, teoricamente, pertence a um grupo familiar que se mostra coeso e do qual ele, sozinho, pode diferenciar-se progressivamente,tornando-se, assim, cada vez mais independente, afastando-se do sistema familiar original até poder separar-se e construir o seu novo sistema. O crescimento e enriquecimento do indivíduo ocorrem à medida que este tenta e aprende novas formas de interação que lhe permitem variar as relações e as funções que exerce dentro dos subsistemas sem perder sua própria continuidade. Essas alterações das funções dosmembros no subsistema acarretam modificações simultâneas em todo o grupo, “caracterizando tanto o processo de crescimento do indivíduo com a reorganização contínua do sistema familiar através de seu ciclo” (ANDOLFI, et al. 1989, p.19). Fenichel (1945) analisa que nos formamos indivíduos à medida que nos sentimos separados e diferentes do outro. Diferentemente de quando se fala em corte emotivo, querepetidas vezes é entendido como uma aquisição de maturidade precoce. Acrescentando essa afirmação, Andolfi (1996) comenta que habitualmente essa maturidade é adquirida paralelamente a um sentimento de reivindicação daquilo que faltou e, assim, mais cedo ou mais tarde, procurar-se-á compreensão, buscando uma pessoa que, por exemplo, lembrará novamente uma espécie de prisão.

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Corroborando...