Movimentos Sociais e Juventude

AÇÕES COLETIVAS JUVENIS: uma análise do mvimento contra o aumento da tarifa do
Por Valéria Silva 14/06/2005 às 12:36
O artigo faz uma análise do movimento juvenil contra o aumento da tarifa do ônibus em Florianópolis-SC - mais especificamente das manifestações ocorridas em Julho/2004 - situando-o no contexto da atualidade moderna brasileira.
AÇÕES COLETIVAS JUVENIS NA ATUALIDADE MODERNABRASILEIRA: uma análise do Movimento Contra o Aumento da Tarifa do Ônibus em Florianópolis-SC
Valéria Silva
Doutoranda em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC.
Profa. Assistente da Universidade Federal do Piauí-UFPI

Palavras-chave: juventudes, modernidade brasileira, ambivalência.

As manifestações juvenis ocorridas em Florianópolis-SC, no período recente de 28 deJunho a 8 de Julho p.p., contra o aumento da tarifa do transporte público, constituíram-se num momento político particular da vida da cidade, conferindo-lhe uma rotina ímpar, tanto pela dinâmica inédita que lhe impôs, quanto pelas paisagens exibidas na rua pelo Movimento através da sua configuração particular, expressa em todos os sentidos. À primeira vista, o Movimento exibiu configuraçõesdiferentes do que geralmente observamos nos movimentos sociais como um todo, aproximando-se bastante, na sua forma de organizar-se e expressar-se, dos novos movimentos sociais juvenis que tem tomado a cena política ao redor do mundo. Mas, antes que façamos uma transposição grosseira do mundo para nossos limites municipais, caberia perguntar: o que existe de novo realmente no Movimento de Florianópolis?Ou, o que existe de particular na sua expressão? Para avançar nessa reflexão talvez devamos imprimir maior abrangência à preocupação, olhar para o nosso país e perguntar: o que há de novo no Brasil? Que tipo de momento da Modernidade brasileira estamos vivendo?

Costumamos atribuir à idéia de “moderno” o significado de novo, bom, avançado; ágil, veloz, instantâneo; explicado e entendido.Sabemos que isso não é sempre verdadeiro. Esse ideário tem mais a ver com defesa ideológica do que com verdade histórica. No caso da modernidade brasileira, flagrantemente podemos verificar a nossa experiência não corrobora com esta acepção. Podemos dizer – apressadamente – que a modernidade brasileira se mostra como um imbricado de signos do protótipo moderno com aqueles congêneres a uma sociedadetradicional, conservadora, sincrética do ponto de vista religioso, situada historicamente numa experiência de colonização escravocrata, muito centrada na pessoa, no clientelismo, na desigualdade institucionalizada e na ausência de direitos sociais. Isso justifica encontrarmos expressos numa mesma situação parâmetros como o cálculo, a ação orientada pelo binômio meios/fins, a objetividade etc. - quesinalizam a presença enraizada da racionalidade - com a mesma força da explicação mágica, da discriminação racial/sexual e do apelo à personalidade, por exemplo. Mostra-se muito mais como uma síntese onde idéias normalmente antagônicas noutras experiências históricas entram com igual peso na configuração final da nossa experiência particular. Assim se fez a experiência moderna no Brasil. Adiversidade e complexidade em vários planos - presente no nosso país desde a chegada dos portugueses e mais recentemente potencializada pela influência do “mundo global” - são as marcas constantes da nossa história de periferia moderna. Atualmente, no Brasil, a modernidade espraia e aprofunda os seus ícones de multiculturalismo, realidade virtual, comunicação instantânea, mercados globais com a mesma forçaque sedimenta a pobreza, o desemprego, a miséria, a fluidez política e cultural e a exaustão do ser. As marcas particulares desse jeito brasileiro de apresentar-se enquanto moderno podem ser vistas em todos os espaços e momentos e também no Movimento sobre o qual pretendo agora refletir.

Este Movimento, deflagrado e hegemonizado por estudantes secundaristas, ofereceu closes expressivos da...