Vasto mundo dos possíveis

Vasto Mundo dos Possíveis: a cidade, a linguagem, o desenho
ANDRADE, Leandro Marino Vieira MASCARÓ, Juan Luis PICCININI, Lívia Salomão * WAGNER. Marisa Leontina

Tão logo levo um caleidoscópio ao olho, sinto que minha mente, ao ver os fragmentos de cores e linhas heterogêneas agruparem-se e comporem figuras regulares, encontra imediatamente o procedimento a ser seguido - mesmo que seja apenasa revelação peremptória e lábil de uma construção rigorosa que se desfaz à menor batida de unha nas paredes do tubo, para ser substituída por outra em que os mesmos elementos convergem num conjunto diferente. Italo Calvino, 20001

SE UM VIAJANTE… … NUMA NOITE DE INVERNO, nessa cidade chegasse, como abrindo um vasto mundo de possibilidades, como no romance de Calvino2, descendo do trem edescobrindo que além da estação existe uma cidade. O problema do conhecimento: tantas cidades quantas forem as falas da sua gente. SE UM MORADOR… … A CADA DIA, pudesse recontar histórias entretecidas em uma rede de outras histórias, de outros moradores, no encontro de subjetividades a construir uma estrutura que, a sua vez, 3 conta o lugar. Não é, pois, a função do espaço, como pensou Bachelard , em seusmil alvéolos, reter o tempo comprimido? O problema do conhecimento: imagem, desejo, percepção, memória - síntese entre a linguagem e o espaço vivido. SE UM DESENHADOR… … DESDE UM PRIMEIRO ADMIRADO OLHAR, pudesse encontrar, em suas destrezas de traçar, um desenho que abrigasse esse mundo de possíveis, onde o gesto fosse sempre a manifestação geométrica de um modo fractal de desenhar e ver (disegnoperché voglio vedere… - disse certa 4 vez Carlo Scarpa ); e estivesse acoplado, a cada risco (que é palavra própria para duplos sentidos), àquelas vontades espessas que o espaço-tempo abriga, no linguajar em que as pessoas - todas e cada uma - produzem um mundo, entre tantos mundos possíveis. O problema do conhecimento: construir o método através do qual se pudesse então fazer soar o 5 verso deArnaud: eu sou o espaço onde estou… MAS JÁ NÃO É O TREM… … QUE NOS TRAZ A ESSA CIDADE, mas a rodovia veloz que se situa entre os séculos XX e XXI. A velha ferrovia - construída e operada pelos belgas da Compagnie Auxiliaire de Chemins de Fer au Brésil no raiar dos novecentos6 - agora se abriga na memória e desperta terna nostalgia. Não é tampouco a intriga narrativa de Calvino que nos desloca emtempo e espaço, mas a objetividade de um compromisso assumido entre a Universidade e a Prefeitura Municipal de Carlos Barbosa: construir a reflexão que possa conduzir à formulação (assim, objetivamente) de um plano diretor para a cidade. Falamos aqui de uma cidade que conta hoje com cerca de 20.000 habitantes (sendo pouco mais de 14.000 vivendo na área urbana da sede), situada à intersecção dos29o17'20", latitude Sul, e os 51o35'51", longitude Oeste, marcada pela topografia ondulada e sulcada por arroios, característica da encosta meridional da Serra Geral, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.
Professores do Departamento de Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Contato com os autores através do endereço eletrônico: securb@vortex.ufrgs.br.
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Cidade próspera, de plenoemprego, e de economia local que se projeta muito além da região, Carlos Barbosa permite viver uma desejável dialética: a da cidade pequena, voltada para a vida em comunidade, mas articulada ao mundo global, pelos meios de comunicação, pela inserção na economia nacional e internacional, pela proximidade de um grande centro regional, como é o caso de Caxias do Sul, e, enfim, da Região Metropolitana dePorto Alegre. A ascendência predominantemente italiana da região misturou-se com gentes outras - os alemães, os suíços, os poloneses, os franceses, além dos portugueses e dos índios8 produzindo, como patrimônio próprio e intransferível, uma cultura de pluralidade e de valores humanísticos. No plano produtivo, a cidade projeta-se no mercado global. A produção metalúrgica de ponta, de um lado, e os...