Viagem Às Origens

Análise do Conto Viagem às Origens, de Alejo Carpentie.

O conto que aqui será analisado narra a vida de um personagem chamado Dom Marcial, Marquês de Capellanías, de uma forma incomum, pois a história começa pela morte do personagem e segue até ele se transformar em embrião e desmaterializar. Porém, antes de explicarmos todo o processo de inversão temporal presente neste conto é necessárioexplicarmos, brevemente, o Realismo Maravilhoso, escola literária a que pertence o conto, e o tipo de narrador.
Realismo Maravilhoso é uma escola característica da literatura latino-americana, sendo frequentemente confundida com Realismo Mágico. Segundo Irlemar Chiampi, o Realismo Maravilhoso é o termo que melhor define a junção da realidade narrativa com os elementos fantásticos e fabulosos, umavez que:
A definição léxica de maravilhoso facilita a conceituação do realismo maravilhoso, baseada na não contradição com o natural. Maravilhoso é o ‘extraordinário’, o ‘insólito’, o que escapa ao curso ordinário das coisas e do humano. Maravilhoso é o que contém maravilha, do latim mirabilia, ou seja ‘coisas admiráveis’ (belas ou execráveis, boas ou horríveis), contrapostas às naturalia. –Irlemar Chiampi, O realismo Maravilhoso, 2ª Ed. São Paulo: Perspectiva, 2008. (p. 48).
Enquanto o termo Mágico nos obrigaria ao uso de elementos de magia no texto, fatos sobrenaturais que exigiriam uma explicação, uma causa, o Realismo Maravilhoso permite a presença de elementos extraordinários sem que haja necessidade de explicações. O que não é natural na realidade humana é aceito como natural noRealismo Maravilhoso, pois ele se estrutura “por meio de um discurso que torna verossímil as aventuras mais inusitadas do personagem.” (BOTOSO). Portanto, “Viagem às Origens” pode ser classificado como um conto do Realismo Maravilhoso, pois o processo de inversão temporal presente nele não é, em momento nenhum, questionado pelos personagens nem se vê necessidade de explicação dos fenômenosocorridos ou de como acontecem. Segundo BOTOSO a causalidade é ausente na narrativa fantástica, ou seja, tudo pode acontecer sem que exija ou necessite justificativas. Esta causalidade pode ser notada, por exemplo, no seguinte trecho:
“Quando o medico meneou a cabeça com tristeza profissional, o doente sentiu-se melhor. Dormiu algumas horas e despertou sob o olhar sobrancelhudo e escuro do PadreAnastásio. Depois de ter sido franca, detalhada, rica de pecados, a confissão do enfermo agora se tornava reticente, trabalhosa, cheia de subterfúgios.” (CARPENTIER, 1997, p. 57-58).


O narrador do conto é heterodiegético, isso quer dizer que ele está fora da história, não participa ativamente, mas conta o que acontece com os personagens. Somente alguém de fora, olhando a história sem estar envolvidonela poderia contá-la da maneira que este narrador faz. Ele conhece a história do início ao fim, mesmo o início sendo o fim e o fim sendo o início.
O conto, propriamente dito, é dividido em 13 capítulos. O primeiro capítulo narra a demolição da casa em que o Marques viveu e da depredação daquela terra. Neste capítulo tanto o Marques quanto sua mulher estão mortos e a casa, de certa forma, estámorta também, a estátua de Ceres (deusa da agricultura que no texto representa a bonança e a fartura) está quebrada e observa a destruição da casa, cada vez mais a casa se aproxima do chão e existe bolor no chafariz em que a estátua se encontra. Ainda neste capítulo aparece um velho negro que é o responsável pela inversão temporal da história, que ocorre a partir do segundo capítulo.
Após amovimentação estranha deste velho o tempo começa a correr de maneira inversa como se a história do marquês estivesse sendo rebobinada, porém não como se alguém estivesse contando a vida do personagem começando pelo final (pois se fosse assim o conto não poderia ser encaixado no realismo maravilhoso), mas como se a vida dos personagens acontecesse de maneira inversa, começando pela morte. É como se...