Mozart

Exercício de Análise – Enfoque Sociológico – Quarta-feira –

Wolfgang Amadeus Mozart, de fato apresenta uma trajetória um tanto quanto conturbada e dicotômica do ponto de vista sociológico, como foi possível verificar através do filme “Amadeus” e também do livro de Norbert Elias “Mozart – a sociologia de um gênio”. É possível verificar na trajetória de Mozart claramente a discrepância do que éconsiderado “social” e do que é considerado “individual”.
Se nos atentarmos ao contexto social da época é possível verificar que este era composto por diferentes extratos/classes e que tais classes tinham maneiras bem distintas de agir e de se comportar. Vale lembrar que era um período de certa forma conturbado pelas crescentes revoluções de classes consideradas inferiores, revoluções estas quenão atingiam somente o campo político-social, mas também a vida pessoal de cada um, as artes em geral e economia, ou seja, uma verdadeira “Revolução” no sentido aplicado da palavra.
Mozart foi criado nessa sociedade. Filho de burgueses, o pai, como uma de suas instâncias socializadoras, logo tratou de lhe ensinar os padrões de comportamento da época e de dar a instrução necessária para seu filhose dar bem na vida (assim como era visto na época). Vendo o interesse e talento do filho na música, decidiu investir neste ponto, que em toda infância de Mozart, foi não só uma forma de complementar a renda familiar viajando em “tournées” pelas cidades da Europa, como também uma forma de unir e agradar a todos na família, pois Mozart amava o que fazia.
A dicotomia começa quando Mozart começa aser impelido por seus desejos criativos e sua sede por autonomia. Mozart, por influência da criação e dos padrões sociais da época, se identificava com o comportamento e gosto da nobreza da corte. Por outro lado, possuía ressentimento por toda a humilhação que era imposta pelos mesmos e se irritava profundamente com isto. Ele buscava um reconhecimento da nobreza e queria ser tratado de igual paraigual. Como é apresentado no livro de Elias “Institucionalmente, a situação que prevalecia à sua época ainda era a do artista assalariado, oficial. Mas a estrutura de sua personalidade era a de alguém que desejava, acima de tudo, seguir sua própria imaginação. Em outras palavras, Mozart representava o artista livre que confia acima de tudo em sua inspiração individual, numa época em que a execução ea composição da música mais valorizada pela sociedade repousavam, a bem dizer, exclusivamente nas mãos de músicos artesãos com postos permanentes, seja nas cortes ou nas igrejas das cidades. A distribuição social de poder que se expressava nesse tipo de produção musical estava, de modo geral, intacta.” (pag. 34)
Em sua juventude, e assim por diante em toda sua vida, seu habitus social diferia desua obra. As pessoas do círculo aristocrático o elogiavam como artista, porém o abominavam como pessoa, e como aponta Elias, isso contribuiu consideravelmente para seu fracasso social não só em sua terra natal, mas posteriormente em outras cidades até o término de sua vida.
Mozart, por mais que quisesse tornar-se um artista autônomo e independente ainda estava preso a tais estruturas da época. Ocampo artístico musical deste período histórico não estava de todo preparado para receber Mozart. Ainda não existia um campo artístico autônomo e independente da aristocracia onde os artistas pudessem exteriorizar sua total criatividade para um público anônimo. Mozart se constituíra como artista autônomo e seguia os ditames de sua própria consciência artística, mas ainda dependia materialmente dacorte e isso como aponta Elias foi a principal razão de sua tragédia.
Podemos então verificar através da análise da biografia de Mozart no contexto social que tanto o artista quanto a pessoa Mozart soam como anomalias à época. Como artista, pois o campo, ou seja, o espaço onde ocorrem as relações entre os indivíduos e estruturas sociais, apesar de ter dado capacidade de criar o artista Mozart...