Política: As Combinações Do Desencantamento

Páginas: 37 (9163 palabras) Publicado: 15 de mayo de 2012
POLÍTICA: COMBINAÇÕES DO DESENCANTAMENTO

Alair Silveira
Depto. de Sociologia e Ciência Política da UFMT



Presente nas múltiplas relações que envolvem a vida cotidiana dos indivíduos, a política pode ser apreendida a partir de duas esferas distintas, porém, interdependentes: a política institucional, que remete às instituições que representam o próprio Estado e demais organizaçõesde poder institucionalizado; e a política cotidiana da vida social, seja sob a forma das relações individualizadas, seja aquela que assume a forma de ação coletiva.
A política, portanto, não se resume à vida dos partidos ou do Estado (seja na esfera federal, estadual ou municipal). Há vida política na prática cotidiana dos indivíduos, mesmo daqueles que juram detestar política ou que se declaramindiferentes. Lamentavelmente, a opção pessoal pela ignorância quanto às disputas eleitorais não preserva ninguém de ser co-responsável pelos destinos da política institucional. Muito pelo contrário: a ignorância e a indiferença são elementos fundamentais para a manutenção da realidade social, política e econômica que os adeptos do apoliticismo condenam. Neste sentido, são co-responsáveis pelapreservação da ordem das coisas que querem transformar.
Francisco Wolff (2003), em artigo intitulado A invenção da política, afirma que a natureza humana é propulsora da política. Seja a política institucional, seja a cotidiana. Segundo ele, por ser transgeracional e transfamiliar, o homem pertence à comunidade política. Nessa perspectiva, o homem, natural e cotidianamente, experenciarelações políticas. Conseqüentemente, o exercício da política não se restringe ao ato manifesto - e consciente - de vontade, na medida em que a política cotidiana – extra-institucional – é realizada, naturalmente, no processo sociabilizatório no qual o homem está inserido.
Em perspectiva semelhante, há séculos atrás, Montesquieu (1985) já destacara a natureza frágil dos homens, concluindo que talnatureza os leva a caminhar uns em direção aos outros, de forma a superarem essa condição de fragilidade. Na perspectiva montesquieuniana, a sociabilidade dos homens deriva da necessidade de superar a vulnerabilidade à qual estão todos submetidos, e cujo benefício individual está condicionado à vida social e, portanto, política.
Induzidos à vida social - por necessidade derivada da frágil natureza -os homens aproximam-se para trocar experiências e conhecimentos, objetivando estabelecer os vínculos sociabilizatórios que lhes permitirá garantir a própria existência e reprodução. Conseqüentemente, a vida social se constitui a partir da confluência de fragilidades dedicadas – pragmaticamente - à própria sobrevivência.
Recusando qualquer substância política original (leia-se: natural) noshomens, Hannah Arendt (1999) identifica que a substância política é social. E, na medida em que a vida social é constituída pela pluralidade de homens, o exercício da política expressa a capacidade de organizar e regular o convívio de diferentes, não de iguais. Conseqüentemente, a política demanda o desenvolvimento da habilidade sagaz e persuasiva para defender interesses, de forma a convencer seusinterlocutores da justeza e da adequação desses interesses.
Trata-se, como ressaltou Wolff, da contradição sob a qual se consolida a própria política: de um lado, os homens querem viver em comunidade; de outro, só o fazem sob coerção, posto que a vida coletiva impõe limitações ao livre exercício das liberdades individuais.
Por decorrência, a política exige espaços públicos - e livres - paradiscussão e embates e, principalmente, a arte da retórica, como bem ensinaram os gregos. Nas palavras de Wolff: A Cidade grega coloca em cena incessantemente a oposição de teses, põe em evidência a contradição no discurso, representa na palavra a oposição trágica dos contrários. A retórica, e também a política grega, imita a guerra na palavra. Ela representa o máximo de contradição no mínimo de...
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