Teatro negro brasileiro
Deiselene de Oliveira Barros
Luciana Hartmann
“A noite todos os gatos são pardos, mas não para os outros gatos”.
(Gates, Figures in Black)
)
Introdução
Esta escrita irá apresentar uma reflexão sobre o teatro negro no Brasil e como esse tema pode ser inserido nas aulas de artes para uma maior efetividadeda Lei 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro - brasileira e africana nas escolas públicas e particulares do Brasil. O ponto de partida será situar o contexto histórico em que a população negra foi inserida no país e como teve que se adequar e buscar meios de sobrevivência. Num segundo momento abordarei a contribuição da população negra no teatro, grupos que foramrelevantes e finalmente procurarei refletir sobre a efetivação da Lei 10.639 de 2003 através da descrição de uma oficina por mim ministrada no Centro Educacional 06 da Ceilândia/DF, que teve como conclusão a leitura dramática da peça Anjo Negro, de Nelson Rodrigues.
É imprescindível, para iniciar, falar da trajetória da população negra no Brasil, pois a ausência das pessoas negras nos palcosdecorre de uma história de exclusão e discriminação. No Brasil, a importação de um modelo eurocêntrico de teatro, até mesmo de um padrão de beleza adotado, fez com que as pessoas negras fossem excluídas dos palcos ou reduzidas a papeis estereotipados.
É de extrema importância também fazer uma reflexão sobre os conceitos adotados nesta escrita relativos à estética negra, teatro negro e performance,para podermos adentrar no ponto mais importante que é a estética negra no teatro brasileiro e seus respectivos reflexos no espaço escolar.
Tanto no Brasil Império quanto na República Velha, dada a frequente adoção de modelos teatrais e de padrões de beleza eurocêntricos, sentiu-se a necessidade de se propor realmente brasileiro, onde a presença negra fosse de fato marcante, um espetáculo nacional,teatro do Brasil, teatro brasileiro. Ao longo de várias décadas do século XIX surgiram autores que procuraram trazer a brasilidade à tona. Mas essa representação muitas vezes era exagerada, com personagens muito caricatos e estereotipados. A população negra foi retratada dessa forma por autores como Martins Pena (1815-1848) e Artur de Azevedo (1855-1908). Já no século XX deu-se sequência a esseprocesso, no qual várias companhias passaram a representar as personagens negras dessa forma. Uma delas foi a Companhia Negra de Revista, da qual trataremos mais adiante com mais detalhes sobre a curta trajetória e o impacto que teve na sociedade brasileira.
Essas primeiras reflexões serão importante para compreender melhor a Lei 10.639/2003, qual é a real necessidade desta e como está sendoaplicada atualmente em uma escola da Ceilândia, Centro de Ensino 06, onde foi realizada a pesquisa de campo. Nesta, procurando compreender na prática como poderia se dar a aplicabilidade da lei nas aulas de artes-teatro, propus a realização de uma oficina que culminaria numa leitura dramática do texto teatral Anjo Negro, de Nelson Rodrigues. A pesquisa foi qualitativa e quantitativa e foi realizada noperíodo de fevereiro a março de 2011, com uma turma de 3° ano do ensino médio.
A partir desses dados, conhecimentos adquiridos, análises e leituras, gostaria de pretendo sugerir atividades que possam ser feitas nas aulas de artes para garantir a diversidade e a aplicabilidade da lei 10.630 nas escolas e principalmente nas aulas de artes-teatro.
Negro Drama
“Um brinde pra mim,
Sou exemplo, devitórias,
Trajetos e Glorias”
(Negro Drama- Racionais Mc’s)
A população negra brasileira no período colonial brasileiro era formada por donos, senhores de engenho e servos, escravos. Os escravos eram trazidos do continente africano e já possuíam uma cultura especifica, mas, com o processo de escravização, foram submetidos a cultura existente para adotarem outra, a cultura brasileira. Mas...
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