As voltas da história

As voltas da história

Prof. Dr. Maximiliano Martin Vicente

Depto de Ciências Humanas

FAAC, UNESP -BAURU

Os historiadores são pessoas perigosas, capazes de colocar tudo de cabeça para abaixo. Convém vigiá-los. Khruschev.
Quem controla o passado controla o futuro e quem controla o presente controla o passado. Orwell.

Este texto procura,de maneira sintética, apresentar algumas das interpretações mais marcantes que acompanharam a historia e os historiadores na evolução da sua disciplina. Evidentemente não se quer esgotar o assunto ou criar, apenas, esquemas. A finalidade principal consiste em exercitar a reflexão sobre a ingerência do historiador na construção e interpretação das relações sociais estabelecidas pelo ser humano emdiversos momentos da sua evolução e ponderar a forma como o próprio historiador avaliou esses paradigmas. Por isso, inicialmente, apresentamos a forma como entendemos a sociedade e seus mecanismos de funcionamento. Posteriormente, estudamos a maneira como a história explicou essas relações. Três variações são apresentadas – positivismo, marxismo e História Nova - para, finalmente, mostrar algunsdos desafios atuais que colocam em xeque a própria história e seus profissionais.

História e sociedade, um processo dialético.

As relações humanas, suas representações e implicações sociais, culturais, econômicas e políticas, constituem o campo de abrangência da história e do historiador. Como em qualquer outra área do conhecimento, também na história, o modo como essas afinidades einterpretações foram abordadas apresentaram explicações variadas com o passar do tempo (LE GOFF, 1984). Parece estar muito claro para os historiadores que na evolução da sua profissão, nem sempre os interesses da maioria da sociedade constituíram os fatores determinantes das suas análises e preocupações. Sempre é bom lembrar que em cada época da denominada historia da humanidade criaram-se práticassociais cotidianas e linguagens determinantes da estrutura da própria sociedade. A ciência e com ela os próprios cientistas e pesquisadores, de alguma forma, não conseguiram ficar totalmente livres das limitações impostas pelo momento em que viviam. Talvez seja necessário refletir, antes de mostrar as grandes linhas e correntes predominantes na história, como funciona a dinâmica social, objeto deestudo da história.
A ordem vigente na sociedade, em qualquer época, assenta-se sobre regras de dominação mais ou menos claras (BOURDIEU, 1988). Existem normas determinantes do que se deve, ou não, realizar e que proíbem qualquer tentativa de transgressão incorporada na estrutura legal estabelecida pela sociedade. As condições de transformação ocorrem na medida em que emergem novos valores ouformas sociais e se valoriza o ser humano (sujeito) integrante dessa sociedade. Acontece que desde as organizações sociais mais conhecidas, notadamente as denominadas primitivas até as atuais, o sistema de dominação foi alterado no sentido de equiparar-se melhor tornando as possibilidades de contestação mais difíceis e arriscadas. Nessas transições criaram-se culturas com seus respectivos valores epráticas de funcionamento suficientemente fortes para determinar na sociedade o princípio de que as normas vigentes fazem parte integrante da própria natureza, portanto seriam inquestionáveis. Nessa caminhada, na maioria das ocasiões, a implantação do sistema veio acompanhado de um método científico, com o intuito de dar legitimidade ao novo modus pensante criado pelos grupos dominantes da novasociedade (SUAREZ, 1995).
As legitimações das lógicas de dominação criadas pelos dispositivos de socialização produzem pessoas submissas, com dificuldades de pensar e enxergar as armadilhas e contradições contidas no sistema, condição essencial para vislumbrar uma outra realidade diferente da determinada pela classe dirigente do contexto no qual vivem. A classe dominante sempre procurou...