Educação musical e experiência estética

EDUCAÇÃO MUSICAL E EXPERIÊNCIA ESTÉTICA Ana Cristina Rossetto Rocha

Resumo
O interesse pelas relações entre a educação musical e a experiência estética no campo da iniciação artística tem me acompanhado em meu percurso como professora e musicista. Esse interesse provocou a pesquisa que desenvolvi no mestrado, realizada na área de concentração de Educação, Conhecimento, Linguagem e Arte daFaculdade de Educação da Unicamp. A Dissertação de Mestrado gerada pela pesquisa foi apresentada em fevereiro de 2011 e foi intitulada “Educação Musical e experiência estética: entre encontros e possibilidades”. A pesquisa analisou o processo vivido por uma turma de alunos da faixa etária de oito anos durante o ano de 2009, orientada por mim, em parceria com o professor de teatro Carlos Sgreccia, naEscola Municipal de Iniciação Artística – EMIA; instituição que pertence ao Departamento de Expansão Cultural da Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo e tem como proposta a iniciação de seus alunos às linguagens artísticas de maneira integrada. A análise foi baseada no entrecruzamento da minha vivência como professora com a observação cuidadosa dos registros realizados durante o períodofocalizado: registros do caderno de campo, fotográfico e de vídeo. Ampliadas e instigadas pelas interlocuções teóricas – que se deram principalmente com autores do campo da filosofia, especialmente Gilles Deleuze e Félix Guattari – esta observação e análise produziram um modo de pensar as potencialidades e possibilidades da educação musical como educação estética. Esse pensamentoartístico-pedagógico construiu-se tendo como eixos tanto de sustentação como de impulso a pedagogia do encontro, a configuração do professorartista e a integração, ou, contágio entre as linguagens artísticas – ideias que são apresentadas e discutidas na dissertação. Este recorte focalizará o primeiro mote da pesquisa: o que qualifica a educação musical em experiência estética? Palavras-chaves: educação musical;educação estética; experiência estética; iniciação artística.
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Das inquietações de uma professora
“Depois de tantos anos como professora, em alguns momentos voltava a me perguntar... Pergunta que se introduzia sub-repticiamente e teimava em me confrontar... E em torno dessa indagação - qual é afinal a natureza ou o sentido mais radical do meu trabalho, o que é essencial nele, do que éconstituído – gravitavam outras tantas que vinham me ocupando há muito tempo” (ROSSETTO ROCHA, 2011: 23). Desse modo inicio a minha dissertação de mestrado. Interessante como algumas questões podem nos acompanhar pelo tempo; ainda que sobre elas nos debrucemos, e possamos pelas nossas observações e reflexões elaborar respostas razoáveis e mesmo consistentes, elas voltam a nos visitar. Reaparecem emvariadas faces e intensidades, adquirindo com o tempo maior complexidade; mas voltando sempre a nos provocar. Embora perguntas instigantes talvez nunca encontrem respostas definitivas - o que percebemos cada vez melhor à medida que ampliamos nossas experiências e construímos nossos saberes, pode haver momentos na vida em que nos dispomos a um embate mais sério: em que pagamos para ver, em que escolhemosmergulhar nas questões que nos são mais caras, mesmo sem ter nenhuma garantia de sucesso. Pode ser esse o motor de uma pesquisa que nos incita a uma viagem de destino e duração imprecisos, mas à qual não podemos mais nos furtar.
Mas não seria necessário somente que a resposta acolhesse a questão, seria necessário também que determinasse uma hora, uma ocasião, circunstâncias, paisagens epersonagens, condições e incógnitas da questão. Seria preciso formulá-la "entre amigos", como uma confidência ou uma confiança, ou então face ao inimigo como um desafio, e ao mesmo tempo atingir esta hora, entre o cão e o lobo, em que se desconfia mesmo do amigo. É a hora em que se diz: "era isso, mas eu não sei se eu disse bem, nem se fui assaz convincente". E se percebe que importa pouco ter dito...