Gil vicente, samir savon e a intertextualidade
Algumas vezes, asreferências a outros textos, obras ou trechos são facilmente identificáveis, outras vezes elas são muito sutis. A intertextualidade pode estar relacionada ao conteúdo ou ao caráter formal. No primeiro caso, utilizam-se os mesmos temas ou assuntos de um determinado texto. No segundo, imita-se o estilo, a linguagem de um autor ou obra. Intertextualidade é também a possibilidade de criar um texto apartir de outros textos. Tais processos ilustram bem o ofício de samiR savoN.
A palavra que dá título a sua obra significa, de acordo com o dicionário Aurélio: “1. Antigo material de escrita, principalmente o pergaminho, usado em razão de sua escassez ou alto preço, duas ou três vezes (duplo palimpsesto), mediante raspagem do texto anterior. 2. Manuscrito sob cujo texto se descobre (...) a escritaou escritas anteriores.” O termo é de origem grega: do grego antigo παλίμψηστος, ou seja, “riscar de novo” (πάλιν, “de novo” e ψάω, “riscar”). A noção de palimpsesto e a intertextualidade se relacionam, já que para efetuar uma produção intertextual é necessário selecionar e reelaborar, valendo-se de originalidade, elementos de um ou alguns documentos escritos. Em Palimpsestos – Uma históriaintertextual da literatura portuguesa, essa relação fica clara: nos poemas de samiR savoN é possível verificar uma série de referências a autores célebres da literatura portuguesa. Há uma reformulação dos poemas essenciais desses escritores, mantendo-se a temática, a estrutura e o estilo originais.
Em Palimpsestos, samiR savoN é apresentado como “reinventor de Proteu a Diderot”. Proteu é um personagemda mitologia grega, filho de Oceano e Tétis, que possuía o dom de prever o futuro e que, para escapar de certas situações, mudava de forma, podendo transformar-se em leões, serpentes, árvores ou fogo. Denis Diderot foi um dos mais importantes filósofos franceses, responsável por organizar a Enciclopédia, reflexo da ideologia iluminista oitocentista. Em Paradoxo sobre o comediante (1979), eleanalisa a função do ator (ou comediante), afirmando que um bom ator deve suprimir sua sensibilidade, adquirindo estabilidade e aprofundando-se no comportamento de seus personagens, de modo que seja capaz de interpretar qualquer papel. A ilusão deve existir, mas somente para os espectadores. Um ator que se deixa influenciar por suas paixões, segundo ele, não consegue representar adequadamente o mesmopapel muitas vezes ou então papéis muito diferentes, como se constata nas seguintes observações: “(...) o comediante que representar com reflexão, com estudo da natureza humana, com imitação constante segundo algum modelo ideal, com imaginação, com memória, será um e o mesmo em todas as representações, sempre igualmente perfeito: tudo foi medido, combinado, apreendido, ordenado em sua cabeça; não háem sua declamação nem monotonia, nem dissonância” e “(...) o verídico e o honesto exercem tamanho ascendente sobre nós que, se a obra de um poeta oferecer as duas características e o autor tiver talento, seu triunfo estará mais do que assegurado. (...)”.
SamiR savoN é associado a Proteu, porque que se metamorfoseia nos autores da literatura portuguesa, recriando as obras de tais escritores. Sua...
Regístrate para leer el documento completo.