Recenhas Educativa

Schubert, William, Schubert, Ann Lynn Lopez, Thomas, Thomas P. e
Caroll, Wayne M. (2002). C u r r i c u l u m B o o k s : T h e F i r s t H u n d r e d Y e a r s
(2nd Ed.). New York: Peter Lang.
608 pp.
ISBN 0-8204-5192-4

João M. Paraskeva
Universidade do Minho-Portugal
Maio 25, 2006
A obra de Bill Schubert e colegas —Curriculum Books: The First Hundred
Years—surge na continuação deuma outra publicada na década de 80
por Bill Schubert e Ann Lynn Lopez Schubert (1980) e relacionada
com os primeiros 80 anos do campo de estudos do currículo. Uma e
outra assentam num trabalho de investigação colectivo e revelam um
ambicioso objectivo, aliás cumprido: espraiar de uma forma descritiva
a cartografia do complexo campo de estudos do currículo. Como
deixam dito no Prefácio “muitoscampos [do saber] sentem cada vez a
necessidade de investigar as suas próprias raízes históricas” (2002, p.
xiii). Todavia, a obra de Bill Schubert ultrapassa e bem este objectivo
a que se propôs. O mesmo já haviam conseguido outros curricólogos
na sua investigação, como por exemplo Herbert Kliebard (1995) e Steven Selden (1999) e
as suas extraordinárias obras The Struggle for the AmeicanCurriculum: 1893-1958, Schooled to
Work, Inherited Shame—obras que, aliás, sugerem uma leitura em paralelo. Na verdade, Bill
Schubert e os seus colegas permitem-nos com esta sua actualizada investigação ferramentas
mais poderosas para a fundamentação e compreensão da educação e do currículo como
uma questão política.
É impossível num espaço limitado – típico de uma resenha crítica – fazerjustiça ao
manancial de informação de uma obra que desnuda um intricado século de estudos
curriculares. Daí que o nosso propósito neste texto se estruture em apenas três grandes
questões. Identificar—ainda que de uma forma breve—a estrutura da obra, analisar alguns
‘silêncios’ com base numa leitura sintomática da obra e, por fim, discorrer sobre algumas
das questões curriculares avançadas pelospróprios autores.
Curriculum Books: The First Hundred Years estrutura se em 12 capítulos e em cada um
deles os autores tentam contextualizar o pensamento e a produção curricular com os
acontecimentos da época. Muito naturalmente, com os autores constatamos (2002, pp. 107136) como, por exemplo, quer pensamento, quer a produção curricular da década de 50 do
século passado não poder ser entendido àmargem da posição que os Estados Unidos
conseguiram com a vitória dos aliados na II Guerra Mundial. Tal como tive oportunidade

Curriculum Books

de deixar amplamente analisado em outros espaços (Paraskeva, 2004, 2005), o campo do
currículo foi sempre ‘determinante e determinado’ pelos contextos social, político, cultural
e económico. Olhando hoje para o conturbado percurso do pensamento eprodução
curricular ao longo dos finais do século XIX e século XX, verificamos como determinados
aspectos sociais, políticos, culturais, religiosos e económicos – a necessidade de
‘americanização dos imigrantes’, a grande depressão, as trágicas I e II Guerras Mundiais, o
protagonismo que os Estados Unidos assumiram, sobretudo e após a II Guerra Mundial,
os conflitos internos na nação norteamericana no período pós guerra—
‘sobredeterminaram’—para me socorrer do raciocínio de Althusser—não só as contendas
pelo domínio do campo do currículo, como ainda as crises e o(s) rumo(s) que o campo
atravessaria e seguiria. A estas questões, os autores de Curriculum Books: The First Hundred
Years foram singularmente doutos nas suas análises e tais questões surgem, digamos, como
mote à glosaque compõe cada um dos capítulos.
Todavia, numa ‘leitura sintomática’ constamos que há temáticas estruturantes no
desenvolvimento e cristalização do campo de estudos do currículo a que os autores
deveriam ter dedicado maior profundidade, como é o caso do fantástico projecto políticopedagógico de Highlander Folk School levado a cabo por Myles Horton. Este projecto é, em
nosso entender,...