A Educaçao Profissionalisante Em Espaços Nao Formais.
Amaro Alves da Silva
1. Introdução
A educação para o trabalho não tem sido tradicionalmente colocada na pauta da sociedade brasileira como universal. Frequentemente é associada, apenas, à “formação de mão–de-obra”. Reproduz, assim, um dualismo existente na própria sociedade entre as “elites condutoras” e orestante da população, levando, inclusive, a se considerar o ensino normal e a educação superior como não tendo nenhuma relação com educação profissional.
A formação profissional, desde as suas origens, sempre foi reservada às classes menos favorecidas, estabelecendo-se já desde os tempos mais remotos, uma nítida distinção entre aqueles que detinham o saber e os que executavam tarefas manuais.Por outro lado, a este trabalho menos intelectualizado associou-se, ainda, o aspecto do esforço manual e físico agregando-se a isso, também, uma ligação à idéia de sofrimento.
No Brasil, a escravidão, que perdurou por mais de três séculos, reforçou essa distinção, deixando marcas profundas e preconceituosas com relação àquelas categorias sociais que executavam trabalhos manuais.Independentemente da boa qualidade do produto e da sua importância na cadeia produtiva, esses trabalhadores sempre foram relegados a uma condição social inferior.
A herança colonial escravista e preconceituosa influenciou, portanto, as relações sociais e a visão da sociedade sobre a educação e a formação profissional. O desenvolvimento intelectual, proporcionado pela educação escolar acadêmica, sempre foivisto como desnecessário para a maior parcela da população e para a formação de “mãode-obra”. Não se reconhecia vínculo entre educação escolar e trabalho, pois as atividades econômicas predominantes não requeriam a educação formal ou profissional.
O saber, transmitido de forma sistemática através da escola, e sua universalização, só foi incorporado aos direitos sociais dos cidadãos bemrecentemente, já no século XX, quando se passou a considerar como condições básicas para o exercício da cidadania a educação, a saúde, o bem-estar econômico e a profissionalização.
Até meados da década de setenta, deste século, a formação profissional limitava-se ao treinamento para a produção em série e padronizada, com a incorporação maciça de operários semiqualificados, adaptados aos postos detrabalho, desempenhando tarefas simples, rotineiras e previamente especificadas e delimitadas. A apenas uma minoria de trabalhadores se exigia competências em níveis maiores de complexidade, em virtude da rígida separação entre o planejamento e a execução. Havia pouca margem de autonomia para o trabalhador, uma vez que o monopólio do conhecimento técnico e organizacional cabia, quase sempre,apenas aos níveis gerenciais. A baixa escolaridade da massa trabalhadora não era considerada entrave significativo à expansão econômica.
Nas décadas de 70 e 80 multiplicaram-se estudos referentes aos impactos das novas tecnologias, que revelaram a exigência de profissionais mais polivalentes, capazes de interagir em situações novas e em constante mutação. Como resposta a este desafio, escolas einstituições de educação profissional buscaram diversificar programas e cursos profissionais, atendendo novas áreas e elevando os níveis de qualidade da oferta.
A partir da década de 80, as novas formas de organização e de gestão modificaram estruturalmente o mundo do trabalho. Um novo cenário econômico e produtivo se estabeleceu com o desenvolvimento e emprego de tecnologias complexasagregadas à produção e à prestação de serviços e pela crescente internacionalização das relações econômicas. Em conseqüência, passou-se a requerer sólida base de educação geral para todos os trabalhadores; educação profissional básica aos não qualificados; qualificação profissional para os níveis técnicos, e, educação continuada, para aperfeiçoamento, atualização, especialização e/ou requalificação de...
Regístrate para leer el documento completo.