A Romaria Enquanto Manifestação Da Religiosidade Católica.

Anais do III Encontro do GT Nacional de História das Religiões e Religiosidades - ANPUH Questões teórico-metodológicas no estudo das religiões e religiosidades Florianópolis, SC. 20 a 22/10/2010 Disponível em: http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pub_3.html

Uma freira italiana no sertão paulista: leituras históricas do diário da Ir. Rita De Stefanis sobre a fundação do Colégio dos Anjos -Botucatu, 1912. Maurício de Aquino
Docente – UENP/Jacarezinho-PR Bolsista de doutorado do CNPq mauriaquino12@bol.com.br

O Colégio dos Anjos da cidade de Botucatu, estado de São Paulo, foi criado pelas Irmãs Marcelinas de Milão no ano de 1912. As interpretações recorrentes acerca da fundação dessa escola, na historiografia local e em dissertações pertinentes,1 assentam-se no pedido do primeiro bispode Botucatu para que as freiras ali se instalassem para auxiliá-lo na organização da diocese e para que atendessem as filhas das elites regionais. A literatura marcelina, por sua vez, trata o processo de modo épico e hagiográfico.2 A proposta de leitura histórica do diário da Ir. Rita De Stefanis permite deslocar e relativizar essas interpretações baseadas em documentos e perspectivasinstitucionais ao valorizar as sensibilidades e as percepções de uma freira italiana que manifesta em linguagem espiritual as angústias, as dificuldades e as impressões decorrentes do estranhamento cultural ante a realidade do sertão paulista em tempos de projeção das ideias de civilização, modernidade e progresso apontando para a complexidade do processo de criação desse colégio.

A criação de colégioscatólicos femininos: notas historiográficas.

O desenvolvimento da história das mulheres ou da história das relações de gênero oportunizou um conjunto expressivo de estudos sobre as práticas das mulheres freiras no Brasil. As análises recaem, sobretudo, na atuação dessas mulheres em colégios construídos entre a última metade do século XIX e a primeira metade do século XX durante a reforma e areorganização da Igreja Católica no Brasil em meio ao processo de modernização republicana do país. Obras incontornáveis, como Igreja e Educação Feminina (1859-1919) de Ivan A. Manoel,3 consagraram exames que relacionam os projetos educacionais desses colégios com os interesses das elites. Outros trabalhos, como A Igreja Paulista no século XIX de Augustin Wernet,4 enfatizaram certainstrumentalização dessas instituições na reforma empreendida por bispos ultramontanos do período. Há ainda pesquisas que destacam as conexões entre esses

Anais do III Encontro do GT Nacional de História das Religiões e Religiosidades - ANPUH Questões teórico-metodológicas no estudo das religiões e religiosidades Florianópolis, SC. 20 a 22/10/2010 Disponível em: http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pub_3.htmlinstitutos e o papel social da mulher, como as de Maria José Rosado Nunes.5 Essas diferentes abordagens das relações entre educação, sociedade e religião em colégios católicos indicam um campo de estudo bem estabelecido e em expansão. A proposta de análise histórica do diário da Ir. Rita De Stefanis, freira da Congregação das Irmãs Marcelinas, sobre a fundação do Colégio dos Anjos, em Botucatu-SP,no ano de 1912, liga-se a essa rede de pesquisas. O diário como fonte histórica possibilita deslocar certas perspectivas totalizantes ao atentar para as percepções e sensações de uma freira que revelam as indecisões, as angústias e as tensões inerentes ao processo de fundação de um colégio católico de uma congregação italiana no estado de São Paulo nos anos 1910. Com as correspondências e asautobiografias, os diários constituem o que se convencionou chamar de escrita de si. Entretanto, para além das características desses materiais urge destacar as especificidades da fonte em questão na medida em que se trata de um diário espiritual produzido segundo princípios morais e institucionais que manifestam os problemas e as tensões individuais e sociais através de um discurso marcado por...