A transferência no campo da psicanálise e da educação

A TRANSFERÊNCIA NO CAMPO DA PSICANÁLISE E DA EDUCAÇÃO

Mestre Delia Maria Carmen De Césaris
Doutoranda Psicologia – Universidade de São Paulo - USP

A transferência é o centro das dificuldades de aplicação dos conhecimentos psicanalíticos à pedagogia, afirma Janine Filloux em seus apontamentos sobre a transferência no campo pedagógico. Ao respeito acrescenta que a abordagem dos fenômenostransferenciais na prática pedagógica permite esclarecer a natureza do pedagógico
Para situar o problema, ao qual nosso título faz referência, devemos nos remeter às fontes. Lembremos que Freud em A dinâmica da transferência (1912), tentou explicar e teorizar por que a transferência surge necessariamente em todo tratamento psicanalítico, assim como qual é seu papel nesse contexto. Ao respeito, nosdiz que pela ação combinada da disposição inata e das influências sofridas durante os primeiros anos, cada indivíduo consegue um método específico próprio de conduzir-se na vida erótica. Método que age como precondição ou clichê estereotípico, constantemente repetido no decorrer da vida da pessoa, na medida em que as circunstâncias externas e a natureza dos objetos amorosos o permitam.Somente uma parte daqueles impulsos que determinam o curso da vida erótica passou por todo o processo de desenvolvimento psíquico. Esta parte está dirigida para a realidade, acha-se à disposição da personalidade consciente e faz parte dela. Outra parte dos impulsos libidinais foi retida no curso do desenvolvimento; mantiveram-na afastada da personalidade consciente e da realidade, e, ou foi impedidade expansão ulterior, exceto na fantasia, ou permaneceu totalmente no inconsciente, de maneira que é desconhecida pela consciência da personalidade (Freud, 1912).

Desde a perspectiva freudiana pode se falar de transferências se tomarmos este fenômeno desde o ponto de vista de sua aparição na vida diária, na qual surge disfarçada nos mais contraditórios sentimentos de amor, ódio, indiferença,confiança, desconfiança, angústia etc; afetando e distorcendo as mensagens que só podem ser transmitidas à custa de numerosas alterações. A transferência não é encontrada só no âmbito da clínica, políticos, educadores, líderes, médicos, todo tipo de pessoas tem que enfrentar problemas transferenciais em suas vida diárias. Todos requerem de algum tipo de crença, de adesão, essencialmente o amorinterfere em nossas escolhas, embora se trate de esconder a escolha sob uma aparência de utilidade ou tradição filosófica, não existe escolha sem crença, nem escolha sem transferência, “na medida em que a transferência é sempre uma questão de acreditar no saber de seu legítimo representante, seja ele político, professor, médico ou psicanalista”.
A transferência para Freud é estabelecida não só pelasidéias conscientes, mas também por aquelas inconscientes e, no texto que viemos comentando, Freud chama a atenção, por uma parte, sobre o modo intenso em que a transferência se manifesta nos neuróticos em análise e, por outro, sobre o enigma de por quê, “na análise, a transferência surge como a resistência mais poderosa ao tratamento, enquanto que, fora dela, deve ser encarada como veículo de curae condição de sucesso” (Freud, 1912). Ao respeito, afirma que “não é fato que a transferência surja com maior intensidade e ausência de coibição durante a psicanálise que fora dela” e que “as características da transferência, portanto, não devem ser atribuídas à psicanálise, mas sim à própria neurose”.
O processo pelo qual a transferência se opõe como resistência no tratamento psicanalítico, sedeve, segundo por Freud, à parte da libido capaz de orientar-se para a consciência e para a realidade se vê diminuída, com um aumento correlativo da parte inconsciente, afastada da realidade, o qual alimenta as fantasias inconscientes do sujeito. “A libido (total ou fragmentariamente) empreendeu um curso regressivo, revivendo as imagos infantis”. Frente a este processo a psicanálise “procura...