Análisis de un soneto de luis góngora

Páginas: 15 (3715 palabras) Publicado: 11 de marzo de 2011
Versos de amor, conceptos esparcidos,
engendrados del alma en mis cuidados;
partos de mis sentidos abrasados,
con más dolor que libertad nacidos;
expósitos al mundo, en que, perdidos,
tan rotos anduvistes y trocados,
que sólo donde fuiste engendrados
fuérades por la sangre conocidos;pues que le hurtáis el laberinto a Creta,
a Dédalo los altos pensamientos,
la furia al mar, las llamas al abismo,
si aquel áspid hermoso no os aceta,
dejad la tierra, entretened los vientos:
descansaréis en vuestro centro mismo.
Elías L. Rivers, Poesía lírica del Siglo de Oro.
Madrid, edicionesCátedra, «Letras Hispánicas», p.266

Escolhemos um soneto de Lope de Vega que se distancia dos poemas trabalhados ou mencionados na aula, e que é comummente designado por poema-prólogo por ser o primeiro da colectânea de Rimas humanas.
Este poema celebra a criação poética, ao sugerir o artifício, a turbulência e o tom altivo necessário para escrever poesia, uma tarefa que combina estrutura(“laberinto”) e arrebatamento (“furia”) e lembra os aspectos apolíneo e dionisíaco da arte. Lope de Veja refere metaforicamente dois dos quatro elementos – o labirinto pode ser lido como o elemento terra e os “altos pensamientos” de Dédalo como o vento – enquanto nomeia especificamente os outros dois elementos, água e fogo, “mar” e “llamas”. Se estes poemas fossem rejeitados por “aquel áspid hermoso”,obviamente o amante perigoso do poeta, ele aconselha os seus “versos de amor” a abandonarem a terra e a brincarem com o vento onde encontrarão repouso no seu próprio centro[1]. É importante lembrar, no que toca a nossa análise, o valor no platonismo renascentista dos círculos e dos centros (Hieatt). Castiglione diz, por exemplo, que “a beleza provém de Deus, e é como um círculo, no centro do qual residea bondade” (Livro IV, 330). O labirinto, por outro lado, atrai aventureiros para o seu centro, um centro não de bondade, mas quase de uma certa perdição. Tal como John Ruskin sublinha, encontrar o centro do labirinto não causava qualquer problema, sair dele é que se provou ser insuperável (citado por Miller 59). O tópico de “Versos de amor” e da colectânea em geral é o amor. Lope de Veja utilizajá uma estrutura associativa bastante complexa no seu poema, uma estrutura que terá repercussões em toda a colectânea. A mulher no poema tanto pode ser “aquel áspid hermoso” – uma figura de Eva de iminente destino para o poeta – como o implícito centro do labirinto. O poeta, ou o poema, não precisa de procurar conquistar o centro do labirinto – o símbolo feminino – ou morrer da rejeição de “aqueláspid hermoso”: o verdadeiro centro, o único centro que importa é o do próprio poema, “vuestro centro mismo”.
Lope de Veja manipula o conceito dos elementos. O último terceto nomeia a terra e o vento, a que já tinha aludido como “laberinto” e “altos pensamientos”. Os poemas estarão assim a um nível superior, como que “no ar”, igualando-se a pensamentos, superiores aos sublimes poemas de Dédalo.“Versos de amor” enaltece quase de forma arrogante a criação poética – o ingenio do poeta – e embarca toda a colectânea numa viagem de um nível altamente criativo de experimentação poética. Descreve os poemas de amor (líricos) cujo valor depende de maneira nenhuma da opinião do desejado receptor. Lope de Veja questiona a propriedade da poesia: a quem busca o poema o patrono?[2] Uma busca análoga poderiaser, de quem é o labirinto? Pertence a Dédalo, o criador, a Minos, o comissário do projecto, a Teseu, o seu conquistador, ou ao Minotauro que o habita? Lope de Veja preocupa-se claramente aqui com o artífice, o criador da estrutura, mas a propriedade do objecto criado é um outro assunto. Lope de Veja afirma aparentemente que o labirinto existe até ele próprio tal como a poesia aceita uma...
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